O Azul Invisível do Mês Que Vem Reflete com exatidão o universo temático dos jovens dos anos 70, apresentando uma produção poética e ficcional. Os poemas presentes no livro focalizam as múltiplas dimensões das relações, inventariando perdas e ganhos, sonhos e frustrações, buscas e utopias; abordando criticamente o conturbado cotidiano das metrópoles, com sua carga de conflitos, violência e solidão. A obra conta com 70 poemas e 10 contos e crônicas que buscam o azul invisível que se procura em cada gesto, em cada olhar sob negrores e cores. 64 páginas (2009)
ÍNDICE
Prefácio
Introdução
Poemas
- Aqui!
- Por Aqui
- Sentinela
- Sorriso Ator
- Os Beatles Tocam
- Do Presente para o Futuro, com Incógnita
- Noite Bêbada
- Perda Latina
- Inércia
- Revolver
- Esquina do Mundo
- Solitdária
- O Medo Perneta
- Opções
15. O Que Chamam de Neurose
O que chamam de neurose há muito não andava a pé pela cidade não visitava em cada esquina um país não dava informações partilhava conduções reivindicava aflições não me entregava aos sinais olhos |furtivos da cidade passos não sentia tanto medo pressentia tanto perigo me entregava ao desespero ao ordenar-me atos fugitivos (a cidade é elo-triste os países das esquinas tragilindos os encontros estranhos) fiquei contente ao me trancar em casa e olhar a vida pelas frestas da veneziana da minha janela acho que a cidade está me deixando louco ou ficando louca não saio mais a pé sozinho ou apenas com uma mulher doce-frágil o que acontece?
16. Dançar Dançar Dançar
Dançar dançar dançar no ritmo desta dança ao som desta discoteca pouco importa o mundo lá fora importa o frenesi dos corpos rostos contorcidos no embalo da música no piscar das luzes da hora estagnada no tempo no ritmo desta dança ao som desta discoteca nada se fala pois nada se ouve além do que é preciso para remexer no ritmo desta dança talvez se esteja amanhã numa coluna social ao som desta discoteca talvez se esteja amanhã numa DP da vida por causa do pó no ritmo desta dança ao som desta discoteca as pessoas se olham buscam encontram no desencontro da grande cidade no ritmo desta dança não importa se a revolução falhou se fuzis ameaçam as portas de nossas casas pouco importa se existe ou não a casa se dentro dela há família ou não ao som desta discoteca tudo fica na frágil superfície dos atos da grande cidade no ritmo desta dança o sonho é realidade viver é mais fácil por alguns momentos no orgasmo da fantasia ao som desta discoteca ligeiras e compassadas palmas acompanham o som no movimento do corpo no ritmo desta dança ao entrar na casa de espetáculos o peito é erguido a posição é ereta a exposição do ego é imediata o dia seguinte não existe ao som desta discoteca todos são atores atores ao ritmo da grande cidade no ritmo desta dança ao som desta discoteca os cumprimentos são efusivos teatrais não importam as doenças se existem perdedores vida na favela censura se persistem manobras políticas silêncio das mentes limbo das ruas se insistem esquinas de sangue máquinas da vida fábricas de sonhos se são antíteses travessuras românticas fogos de artifício do amor peripécias da flor no ritmo desta dança ao som desta discoteca todos são vencedores nesta grande cidade no ritmo desta dança tudo é intemporal o feto e o espectro convivem na mesma razão a morte |não existem o nascimento a visão do presente é simples e imediata o compasso é mais rápido que a vontade de pensar as estrelas da noite são estroboscópios astrais importa quem faz alegria carece o coração de responsabilidade maior tudo é responsabilidade da grande cidade ao som desta discoteca o fim de semana é intocável os interiores são espelhos da influência externa a realidade é esquecida abafa-se o choro dos que encontraram a realidade lá fora o descompromisso é latente o disco é o herói os rostos parecem à procura uma procura da grande cidade no ritmo desta dança ao som desta discoteca o assunto é o sapato a roupa o penteado a moda geral a pista de dança afasta a tortura o átomo as religiões o diálogo a inteligência a solidão os grupos os casais os isolados todos se integram no ufanismo coletivo paga-se por um pouco de ilusão no ritmo desta dança
a hora de ir ao banheiro é um dos poucos momentos de verdade no camarim do espetáculo da urina e da merda ao som desta discoteca o espetáculo a urina a merda são a grande cidade no ritmo desta dança ao som desta discoteca não interessa o empréstimo no banco nem a panela suja na cozinha no ritmo desta dança não importam as traições do viver os suicídios do sofrer os maus-tratos da periferia as frustrações das janelas cerradas ao som desta discoteca importam os momentos no ritmo desta dança admiram-se corpos para a tarde de domingo ao som desta discoteca os corpos descobrem o sábado à noite e o amanhecer na tarde do dia de corpos lindos no ritmo desta dança ao som desta discoteca os corpos saem atrás da fala da grande cidade no ritmo desta dança ao som desta discoteca a alegria é feita da dor da grande cidade na morte que nunca matei do espectro meu
- Espectro
- Atravessar
- Tempo
- Passa, passará
- Talvez Viver
- Pueril
- Por Entre as Ruas do Mundo
- Amor Baldio
- Desamor
- Por Não Haver Solução
- Desquite
- Safra
29. Pensar
Pensar Emito suspiro de ausência. Poderias ter ido a Londres, à esquina mais próxima ou mesmo ao banheiro. A falta seria equitativa. Foste. É triste saber que voltarás com outra vivência, experiências e visões distintas. É triste saber que podes até mesmo não voltar. – Ninguém deve nada afirmar, o mundo é pródigo em surpresas! Foste. Dói saber que durante um período vamos crescer isolados. Dói saber que quando voltares vamos ser diferentes. Enquanto vives, apenas penso e acumulo. Tudo. Principalmente você.
- Por um encontro
- Vazio
- Trágica Folia
- Entreamores
- Não Esqueça o Amor
- Dia de Festim
- Calas
- Introspecção
- Pesadelo
- Flores Sepultadas
- Torpor
- Higiene Matinal
- Sofá
- Metamorfose
44. Mordendo a Vida
Mordendo a vida tarde negra mente quente sangue em passeata pelas veias brado bravo punho fechado mãos e pés em batida infernal soco na mesa chute na porta dentes nervosos mordendo a vida corpo deitado estômago contraído pensamento de volta a passear água no rosto espelho para imprecar rádio a tocar silêncio de um minuto a calma retorna devagar
- Desespero Número Um
46. O Azul Invisível do Mês Que Vem
O azul invisível do mês que vem Mantendo a persiana fechada Para não deixar a luz do sol entrar Sentindo os objetos numa cinza cor Junto ambiente ao pensamento em nó Na parede de gelo, lisa, sem mensagens Cenas se passam em sequência turva Preto & branco em colorido Então me sacodem a cabeça Palavras soltas da noite de terça Fotografia do almoço de sexta A porta aberta de uma semana atrás Trancada na tarde de um dia bruto Com as mensagens do cotidiano A violência dos dias escuros e longos Me impedindo de pegar e ver O azul invisível do mês que vem
- Memória
- Cernes
- Traumas
- Existencial
- Último Verão
- Uivos
- Contra-Ataque
- Réstia
- Enguiço na Hora Errada
- Diversão Pequena
- Parto Poético
- Poema no Mundo
- Mesmas Partes
- Eu e o Cinema
- Mares de Rancor
- O Olho Capta
- Galeria
- Alegoria
- Reino Primata
- Meta-Vida
- Abandono
- Nuvens Carregadas
69. Que o Amanhã Exista
Que o amanhã exista nesta noite em mim tempo de perdas no crescer apenas de sobras das cinzas guardo aqui desconfianças de que um dia os desencontros podem se encerrar hoje durmo em seco num fechar de olhos destemporizado certo de que todos os sonhos ficam para amanhã
43. Pólens
44. Drummoniana Anos 90
45. Resultados
46. Nome
47. Sinais Verdes
48. Epitáfio
49. Pingos de Sal
50. Interatividade
51. Ponto Básico
52. Carne Quente
Carne Quente seu corpo é carne quente macia e envolvente como água morna em pele fria que tanto bate até que fura toco sua mão e é como se fosse apresentação energética encontro magnético de poros deleite de fantasias beijo partes de você sem começo nem fim me esqueço me deito me desfeito faço levito no manter detalhes corporais que querem se despregar de mim pregar em você juntar em pedaços inteiros do ser seu as partes que pego no ar de um mundo criado em pequeno espaço de dois corpos que se tornam das mãos pés coxas troncos mentes sérias vadias sadias nexus plexus sexus vertentes dos solos da agonia da pressa que não tem hora marcada no encontrar do prazer
Contos e Outros Escritos
- Epitáfio para Uma Cross
- Parca Reflexão sobre Cristina, a partir de um romance de Rubem Fonseca
- Estrelas Mortas
- Antropofagia
- História de Bar
- Lembranças
- Gotas no Lençol
- Afonso Pena, suas correlatas e suas possibilidades
- Óvulo e Esperma
- Meus Orgasmos Frustrados
- Cacos
- Correspondência