Autor: Henrique Alberto de Medeiros Filho. O non-sens existencial e real é uma folha frágil pela qual a palavra leva, por entre os poemas de Henrique de Medeiros, as buscas de respostas da vida que não se disponibilizam. Os buracos do existir são preenchidos pelas letras que formam os contextos do pensar e as fragilidades do homem e seus fazeres. As realizações de pensares e pulsares diluídos nas difíceis realizações humanas. É a poesia do ser. Que se expande em outros escritos trazendo instantes plenos de um personagem angustiado que, mais do que um observador-expectador dos fragmentos dos quais participa, traduz um passear de pensamentos e individualidades. Reflete o que se extrai e expõe de um garimpo do viver que nos leva a razões e fins difíceis de encontrar.

ÍNDICE
Introdução
1. da tristesse ao allegro

Lavo as mãos compulsivamente
quero me limpar das sujeiras do mundo mas ele é mais impuro
que as minhas mãos
mentalizo o branco-alvo
quero me livrar
dos pensamentos dos homens
seus arcos-íris
sempre mutam
para poças de sangue
sigo caminhos que decifro
nos voos dos pássaros
nas estrelas que despencam
nas barbatanas das águas
em vulcões submersos
nas marcas das patas
nos cometas que riscam
mas são pontos de interrogação

3. escrito ou dito
4. a busca
5. corpo morto
6. só por estar
7. eixo dos lobos cerebrais
8. mentindo
9. barulhos da busca
10. sonho na tela
11. brotam
12. bloco dos contentes
13. o prazer da preza
14. como ser poeta
15. véia
16. daquilo
17. plena avenida

nu
estou nu
no dia
clarão solar
revela farsas
retinas fáceis de ler
peles entregam experiências
vergonhas saltam
petulâncias murcham
estou nu
no front
frágil exposto
minguado fadado
fachos transparecem
cérebro
sociotribos
decompostas
encandeiam
visto-me
resolvo

19. atinos

o artista
cerebrino
ativista
concreto abstrato
nervoso sistema
massas
cinzenta branca
esquerdas direitas
descentrais
encefálico cerebelo córtex
caloso conector
hemisférios
neuras
pensares
lobos
perceptos
conscientia
linguagem
lembrares
gânglios
perturbações
complexitudes
consecuções
tronco
interpretares
célula-flama
realidades
imaginações
o artista
fora da caixinha

21. têm que estar
22. ilusões
23. não cabe
24. sol
25. gangorras
26. promessas em embrião
27. nas veias da cidade
28. mundo tela de cinema hoje
29. traga
30. descoberta
31. duas vidas
32. ogivas
33. asas
34. baile da fuga
35. cemitério de gente, música!
36. passeata
37. fim de noite
38. dois em um
39. equação
40. sorrir amar chorar

TPM
impulsivas agressivas psicopatas
assassinas explosivas castradoras
enlouquecedoras desvairadas irritadiças
desconcertadas magoadas destrutivas
inconformadas revoltadas frustradas
desequilibradas ásperas furiosas
temperamentais vingativas destemperadas
alucinadas descomedidas perigosas
exaltadas malucas destrambelhadas
ambiciosas tresloucadas amarguradas
azedas desafinadas ressentidas
ensandecidas desatinadas aflitas
desgostosas perturbadas alopradas
despropositadas ácidas irascíveis
loucas rubras espécimes
pelas ruas-cataclismos
queimam num ciclo sanguinário
hormônios-lavas indignadas

  1. 42. vírgula

helicóptero
como um helicóptero
parado no ar
observo a paisagem
que se transforma em palco
personagens e cenários
ganham roteiros
dos primórdios da memória
às correntezas dos rios
no relógio do fluir
doce ou salgado bolo de engolir
diálogos atos fatos
restauram adulteram
regeneram degeneram
centrifugam
nas sensações
desperpétuas ou perenes
mergulho no verde molhado
voo para o infinito azul
solo recebe meus dedos
pedra acolhe meu encosto
ar admite meus pulmões
injeto em mim possibilidades
do libertar
do que ficou
do espreitar
linhas letras palavras
frases parágrafos interatuar
edificações vizinhanças quarteirões
bairros povoados metrópoles
regiões territórios nações
continentes totalmundos
planetas uni versos
celestes celestiais
mentes vazias ou cheias
transfazeres da imaginação
agitam meu cérebro
na rapidez das hélices
de um helicóptero
plácido no ar
rastreando
direções panoramas
transmutações

44. loucomovendo
45. nadas em busca dos tudos
46. o caso do acaso
47. ali longe daqui
48. sexus recalque
49. evecção
50. algumas outras pessoas
51. cármicas
52. escapismo
53. rigidez da flacidez
54. sempre dias de novas ideias
55. inteligência superficial
56. conchavo
57. esconde-esconde
58. purezas e pecados
59. esquadrinhando
60. capa e miolo
61. despertar
62. aqui ou ali
63. palco
64. imensidão

um nenhum
quando eu vim
não sei de onde
nem pra onde
mas cheguei aqui
eu era um
hoje não sou mais
nenhum
daquele um
quando eu vim
ok adiante
vou em frente
mas seguir
sem olhar pra trás
é psicopatia
ou sensatez
por aqui são
tantos cérebros
indecifráveis
próximos
mas desuníssonos
tantos e não
conseguem respostas
muitas vezes
nem perguntas fazem
querem sondar o insondável
achar o inalcançável
o olhar de cada um
vê prismas diferentes
o sorriso de cada um
especula encantos matiz
os ouvidos de cada um
ouvem sons distintos
no que se baseia a multifacetagem
encontros plurais
olho e me apequeno
com tantas multidões
serei maior que elas
na minha pequenez
fala um fala dois fala três
quantos pensares
valem frases ou conceitos
alguém tem a resposta
pois quando vim
eu era um
sou nenhum

66. apocalipses
67. quarto
68. memória
69. boreal
70. bem-estar
71. transfiguração
72. permitir
73. inospitaleiro
74. natureza das coisas
75. das coisas do pantanal
76. conceitos correndo atrás de textosOutros Escritos
Yara Truffaut
Profissão liberal
Ponto básico
Os órfãos de Lennon
Cheiro de peru sacrificado
Fernanda e o ego
Imagens velhas sobre o amor
Endereço de passado
Janela e ela
Por hoje é só, boa noite
Jantar
Coito morto
Crônica com um amigo
Gotas de urina no pé da mulher amada
Onde